Tag Archives: POLIFAGIA

DIABETES MELITO EM GATOS

Por RAQUEL REDAELLI, adaptado do livro “O Paciente Felino” terceira edição, do Dr. Gary D. Norsworthy.

O Diabetes Melito (DM) é a segunda endocrinopatia mais comum em gatos (a primeira é o hipertireoidismo). A doença é causada pela destruição progressiva das células beta pancreáticas ou pela resistência à insulina (mais comum). O resultado é uma capacidade prejudicada dessas células em perceber os níveis de glicose sanguínea e responder com liberação adequada de insulina. O DM pode ocorrer secundariamente a uma condição primária subjacente (a obesidade é a principal delas) que provoque resistência à insulina. Ele também ocorre simultaneamente com a pancreatite crônica, uma doença frequentemente não reconhecida nos gatos. Os sinais clínicos clássicos são poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso, que ocorre como resultado da hiperglicemia persistente. Quando o DM não é controlado, há o desenvolvimento de um estado patológico mais complicado, conhecido como Cetoacidose Diabética, em que ocorre cetonúria, acidose e vários desequilíbrios eletrolíticos, sendo imprescindível sua identificação por se tratar de uma emergência médica e poder levar o paciente a óbito em poucas horas.

O tratamento do DM requer um grande comprometimento do proprietário, exigindo envolvimento financeiro e pessoal por meses ou pela vida toda do gato. O tratamento baseia-se na administração de insulina, no controle da dieta e no tratamento de complicações secundárias. A administração de insulina é feita diariamente, uma ou duas vezes ao dia (depende da resposta do paciente ao tratamento), visando a remissão dos sinais clínicos e da glicemia. Alguns gatos podem responder aos hipoglicemiantes orais, principalmente quando a doença for precocemente diagnosticada.

A dieta fornecida deve conter baixo teor de carboidratos e alto teor de proteínas (existem formulações comerciais específicas). Pode-se associar rações úmidas (enlatados ou sachets), pois a maioria possui níveis de carboidratos muito inferiores do que os mesmos produtos em formulações secas. As dietas com fibras solúveis retardam a digestão e reduzem a hiperglicemia pós alimentação. As rações específicas à disposição no mercado brasileiro são Royal Cannin Diabetic e Obesity, Hill’s w/d e r/d e Guabi Natural Diabetic.  O tratamento das infecções bacterianas, da pancreatite e da insuficiência pancreática exócrina, secundários ao DM, deve ser realizado concomitantemente, pois sua presença torna muito difícil o controle glicêmico.

A remissão do DM é possível, pois as células beta sofrem um rodízio de suas funções ao longo do tempo. Os proprietários precisam estar conscientes sobre a ocorrência esperada dos períodos de descontrole, os quais irão requerer um ajuste da dose da insulina. Um gato com diabetes descomplicado (não cetoacidótico) possui um bom prognóstico se o proprietário estiver disposto a aprender e comprometido com o tratamento do gato.

 Os gatos são relativamente livres de complicações crônicas do diabetes. Diferente dos cães, eles não desenvolvem a catarata diabética. Eles também não apresentam doença vascular periférica, a qual causa necrose e ulceração das extremidades, como ocorre em humanos. Contudo, duas complicações crônicas são possíveis: a neuropatia e a nefropatia diabética.

A neuropatia diabética ocorre em diversos gatos, cursando com fraqueza dos membros pélvicos assumindo postura plantígrada, atrofia muscular e depressão dos reflexos e testes de reações posturais. Os gatos afetados geralmente andam com os calcanhares tocando o chão. É comum a fraqueza progredir para os membros torácicos. Não se conhece terapêutica específica para esta alteração. Um bom controle da glicemia durante vários meses geralmente resulta em melhora ou em um retorno ao estado próximo do normal. Contudo, nem todos os gatos respondem.

nefropatia é rara de ocorrer, e sua detecção é complicada pois os sinais, sintomas e alterações laboratoriais são idênticos aos da doença renal que ocorre na senilidade, e  a maioria dos gatos diabéticos é idosa. O tratamento é o mesmo para a doença renal.